Perfil dos professores das escolas públicas de Salvador
Formação inicial dos professores (Claudiomiro e Cláudio)
3) Formação: Em um universo de 83 professores, cerca de 17% possuem apenas a graduação sem outras formações, 33% desses são especialistas, aproximadamente 13% são mestres e 4,8% são doutores. Apenas 1,2% dos professores possuem o ensino médio, porém está se graduando em pedagogia. Estes percentuais evidenciam uma formação acadêmica menos robusta uma vez que menos de 20% dos docentes possuem pós-graduações em programas stricto sensu. Considerando que em países com avaliações muito positivas no campo da educação, como é o caso da Finlândia, professores precisam ter pelo menos o mestrado para atuarem como tais, uma formação menos consistente representa um considerável prejuízo de formação.
No entanto, com base nos dados levantados na pesquisa, podemos constatar que esse cenário está próximo da proposta do Plano Nacional de Educação (PNE) vigente 2014-2024 uma vez que, de acordo com as informações apuradas, 50,8% dos professores possuem pós graduação, Lato ou Stricto Sensu.
A meta do PNE seria “Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da Educação Básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos os(as) profissionais da Educação Básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.”
4) Área de Formação: Dos profissionais pesquisados 57% são formados em cursos na área de ciências humanas, 19% na área de exatas, 11% na área de ciências biológicas e 13% com formação em letras.
Dentro do grupo majoritário de humanas 57% do total de docentes aproximadamente 40% são pedagogos.
Estes dados evidenciam uma carência de professores de determinadas áreas do conhecimento, como é o caso de professores das áreas de exatas e ciências biológicas. O provável resultado disso são: professores algumas vezes estarem lecionando disciplinas para as quais não possuem formação, por necessidade do sistema, fato que representará um prejuízo tanto para o profissional, que se vê na incômoda necessidade de ensinar conteúdos para os quais não recebeu formação adequada, quanto para os alunos, que terão disciplinas ministradas por professores desviados de sua formação original e não terão um aprendizado de qualidade. Além disso há um prejuízo para o propósito do sistema educacional idealizado pelo PNE.
Esses dados corroboram com um estudo feito pelo Tribunal de Contas da União em 2014, onde mostra como é grande o déficit de professores qualificados para o ensino médio em todo o Brasil. De acordo com os dados compilados pelo TCU na época, o déficit de professores com formação específica é maior em Física.
A formação continuada dos professores seria, neste caso,uma alternativa positiva tanto para eles, pois preencheria as lacunas na sua formação inicial, quanto para os alunos em sala de aula, pois teriam um profissional motivado e melhor qualificado representando um ganho significativo no processo ensino-aprendizagem.
Atuação dos professores (Leda, Lind e Cremildes)
6) Tempo de serviço:
Do total dos 83 professores entrevistados, cerca de 21,7% tem 15 a 20 anos ensinando ; 19,3% entre 10 a 15 anos, com menos de 5 anos somam 15,7% dos professores e apenas 14,5% atuam entre 5 a 10 anos. É possível perceber que cerca de 30% dos professores tem mais de 20 anos de atuação, o que nos leva a inferir de que quanto maior o tempo de atuação do professor, maior é a sua dificuldade na utilização dos recursos de TIC na educação, visto terem se formado em cursos em que as TIC não estavam presentes. Essa deficiência no geral é atribuída na falta de tempo além de pouco incentivo para se aprimorarem e a infraestrutura deficientes nas escolas. Outra variável importante é que a falta de formação continuada para o uso da tecnologia nas aulas deixa em evidência os problemas na formação universitária para a docência. A maioria dos cursos de licenciatura ainda negligencia a tecnologia.
7) Carga horária de trabalho:
Foi verificado também, a carga horária desempenhada pelos professores. Dos 83 entrevistados, sessenta e três professores trabalham numa jornada de quarenta horas semanais, isto representa 75,9% do total, quatorze exercem uma jornada de vinte horas semanais, ou seja, 16,9% e apenas seis professores trabalham sessenta horas contabilizando assim 7,6%.
Conclui-se o educador investe na sua formação e cursos, porém o salário é extremamente precário em relação às exigências que são feitas, visto que há uma cobrança por parte da gestão/pais/alunos em querer um profissional atualizado, que explore diversas metodologias porém não há um investimento para que haja este aprimoramento. O educador já ganha tão pouco que muitas das vezes tornar-se dificil investir em cursos que possam aprimorar seus conhecimentos.
A carga horária está relacionada com o ganho salarial ou seja quanto maior a carga horária maior o salário, visto que quando um educador assume uma carga horária entre 40 a 60 horas torna-se difícil dar continuidade com a sua formação. Segundo uma entrevista no site da Gazeta Online,onde uma educadora dá um depoimento que diz: “ Hoje, trabalhamos para nos manter. Há professores que trabalham até três horários para garantir a renda e alguns ainda trabalham em outras funções no final de semana. Há uma carga de cobrança muito grande de todos os lados, mas o professor não é valorizado[...] Professora Maria Gláucia Marcarini, 57 anos atua 12 anos na rede pública.
8) Turnos de trabalho:
Dos 83 entrevistados, observa-se que predomina a preferência de ensino pelos turnos matutino e vespertino, como mostra o gráfico abaixo:
É notável que durante os turnos matutino e vespertino há uma grande demanda de alunos exigindo uma quantidade maior de educadores que possa atender este expressivo público. Por um motivo bem óbvio, durante o dia tem a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Já no noturno, sabemos que estão o público da EJA formados por trabalhadores e alunos com distorção de série ou indivíduos que tiveram que se afastar da escola, retomando seus estudos quando conquistasse uma “estabilidade” financeira. Mas, não são apenas alunos da EJA que estão na escola à noite.
9)Atendimento:
A maior porcentagem dos 83 professores entrevistados na pesquisa atendem o Ensino Médio com 51,8%, seguido do Ensino Fundamental I com 28,9%, Fundamental II 39, 8%, EJA 19,3%, Educação Integral 6%, Educação Infantil e Educação Profissional cada um com 3,6%.
Nos demais cursos: Curso Técnico, Profissionalizante, Proeja, Graduação em EAD. Ed.Profissional, Técnico em Informática e Educação em Tempo Integral, apenas 1,2% dos professores. A partir dos dados constatamos que apesar da amostra ser aleatória foi possível incorporar profissionais de todos os seguimentos. Dado essa peculiaridade não é possível definir o perfil dos profissionais e seguimentos analisados.
10) Área de atuação:
Gráfico da análise das quantidade dos professores nas áreas de atuação.
Analisando a área de atuação desses profissionais entrevistados, sendo contabilizando 83 professores, observou-se que predomina sobre as demais áreas do conhecimento o ensino das ciências humanas.
Destes entrevistados, 38 estão atuando na área de humanas, isto representa um total de 45,8% dos professores. Nos demais campos temos: as ciências exatas com 12 professores, correspondendo a 14,5%, seguidos das ciências biológicas com apenas 10 professores, equivale a uma porcentagem de 12% e finalmente a segunda maior porcentagem fica por conta das artes e letras, com 19 professores, num somatório de 22,9%.
Formação em TIC e Educação(Neilde, Lorena e Andrea)
14 gestores) Foi oferecida à escola ou aos seus professores algum tipo de formação em TIC e Educação?
15 gestores) Onde ocorreu essa formação?
11 professores) Recebeu algum tipo de formação em TIC e Educação?
12 professores) Onde ocorreu essa formação?
Análise:
Professores: Em análise, verificamos que 77% dos professores, considerando os dados oferecidos, tiveram alguma formação em TIC, e 44% dos professores fizeram capacitação pela Secretaria de Educação, 23% pelos NTE e 33% em cursos particulares. Desta forma, a maioria das capacitações ocorreram na Secretaria de Educação do Estado e NTE (NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL). Os 33% dos professores que buscaram capacitação de forma particular e independente, demonstra o interesse do corpo docente por buscar o conhecimento em TIC.
Verificamos que estes professores são oriundos tanto no que diz respeito à formação, quanto à atuação, de áreas diversas. Desse modo, ao contrário do que diz o senso comum, não falta vontade do professor para que as tecnologias avançam nas escolas, parece mesmo que falta sentido para isso, os dados mostram que não basta apenas implantar a TIC, o que falta mesmo é sentido para utilizá-la. A falta de professores específicos da área de TIC,também pode ser um impedimento para o desenvolvimento das mesmas. Isso ocorre devido a grade curricular do estado não incluir matérias específicas de Tecnologia.
Gestores: Segundo as informações fornecidas pelos gestores, foram oferecidas capacitação em TIC à 75% das escolas, sendo que apenas 12% das escolas são de esfera Municipal e receberam a capacitação na Secretaria Municipal da Educação; e 87% são Escolas da esfera Estadual que receberam capacitação, em sua maior parte do NTE (55%), Secretaria de Educação do Estado(39%) e na modalidade EAD (6%). Desta forma, a maioria das capacitações ocorreram nas Secretarias de Educação e nos NTE( Núcleo de Tecnologia Educacional).
Conforme os dados coletados, existe coerência nas capacitações em TIC, oferecida pela Secretaria da Educação e NTE entre os dados apresentados dos Gestores e Professores, porém, a formação particular e independente dos professores nos chamou atenção, isso reitera, portanto, que não é desinteresse deles que “atrasa” esse campo da educação. Isso aponta que o problema é estrutural, e apesar de atingir, principalmente, as TIC alcança também outras áreas do conhecimento que possibilitam criatividade e protagonismo dos alunos. As TIC, na maioria das vezes, são vistas como “meio” para aprendizagem, geralmente elas não são vistas como aquelas que promovem a aprendizagem em si. Esses discursos, sobretudo, ancoram ações conservadoras que em nada contribuem para o avanço das tecnologias nas escolas.
Sendo assim, o esforço dos professores em buscar formação em TIC demonstra que os passos estão sendo dados, apesar de toda dificuldade eles estão se esforçando no campo individual para mudança nas escolas onde trabalham. Contudo, as mudanças estruturais se dão com maior ênfase a partir de mobilizações coletivas que buscam exigir políticas públicas de qualidade, contudo para isso é preciso também uma mudança na maneira de pensar as TIc’s.
Software livre: (Josiane, Caique e Matheus)
18) Conhece software livre?
19) Quais softwares livres conhece?
20) Quais oficinas de produção de conteúdos em Software Livre gostaria de frequentar?
Dentre os professores das escolas Estaduais e Municipais que foram entrevistados, 59% dizem que conhecem o software livre (linux,libre office, moodle, wordpress e etc.). Entretanto dentre estes, alguns não sabem o real significado da palavra, visto que, apresentam na pesquisa exemplos de software privados (microsoft Office, serviços do Google e etc.). Software livre, segundo a definição criada pela Free Software Foundation é qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado e redistribuído sem restrições.
O que se sabe ao certo é que a expressão “free”, empregada pela comunidade, não significa “grátis”, mas está relacionada com a expressão “liberdade”. Outros autores definem Software Livre à liberdade dos usuários de informática em executar, copiar, distribuir, estudar, modificar e melhorar programas.
Um software é considerado livre quando este atende quatro tipos de liberdade que são:
- A liberdade para executar o programa, para qualquer propósito;
- A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades. O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;
- A liberdade de redistribuir, inclusive vender, cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo;
- A liberdade de modificar o programa, e liberar estas modificações, de modo que toda a comunidade se beneficie. O acesso ao código-fonte é um pré- requisito para esta liberdade;
Segundo PACITTI(2006), a metodologia altamente cooperativista defendida pelos adeptos do Software Livre começou no fim dos anos 50, na forma de um modelo de software colaborativo ou cooperativo, cujos grandes beneficiados eram os fabricantes de hardware , que absorviam as contribuições do espírito cooperativo dos poucos usuários de uma época em que economicamente se dava mais valor ao hardware do que ao software em si. O autor relembra que foi a partir dos anos 70, quando surgiram as “Software Houses Independents”, iniciou-se a preocupação com a proteção e os direitos de propriedade intelectual e/ou empresarial do software.
Em sua maioria, os professores das escolas analisadas tem o desejo de frequentar as oficinas de produção de conteúdos em software livre, conforme os seguintes dados.
Percentual de interesse em oficinas de produção em software livre:
Muito embora os professores informem ter interesse em participar das oficinas em software livre, fica claro que eles não conhecem bem o que é software livre e apenas buscam meios para melhorar a sua atuação em sala de aula, pouco importando se esse meio utiliza de software livre ou software proprietário.
Através da leitura dos dados percentuais de interesse nas oficinas de produção em software livre entende-se que a maioria dos professores estão mais preocupados com o método utilizado para transmitir conhecimento, buscando assim uma forma de despertar a atenção dos alunos para os conteúdos trabalhados. De acordo com a pesquisa os meios preferidos seriam recursos educacionais, vídeo, vídeos de 1 minuto, redes sociais, licenças livres, impressos e rádio respectivamente.
Referências:
Free Software Foundation- https://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt-br.html
PACITTI, Tércio. Paradigmas do Software Aberto. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
Caique, não liberei o material da análise para publicação. Retire da rede...
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